O Programa Cuide do Seu Coração foi implantado em Porto Alegre em abril de 2023 com o objetivo de prevenir e reduzir o número de mortes por doenças cardiovasculares ao criar um cuidado especial que abrange toda a rede de saúde municipal, estimulando estilos de vida saudáveis para a prevenção das doenças. Foram criadas cinco diretrizes específicas pensando no ciclo de cuidado dos pacientes hipertensos e diabéticos, contemplando o aumento do diagnóstico, mudança do estilo de vida, realização da estratificação pela equipe de saúde, acompanhamento do seguimento dos pacientes hipertensos e diabéticos e capacitação das lideranças comunitárias, incluindo a reativação dos conselhos locais de saúde, realização de salas de espera, comunicação nos grupos da comunidade.
A boa prática “Cuide do Seu Coração” tem como principais objetivos: 1. Promoção da Saúde Cardiovascular – Incentivar hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e controle do estresse. 2. Prevenção de Doenças Cardiovasculares – Reduzir fatores de risco, como hipertensão, diabetes, colesterol elevado e tabagismo, por meio da conscientização e do acompanhamento adequado. 3. Educação em Saúde – Sensibilizar a população sobre a importância da prevenção, com informações acessíveis sobre os sinais de alerta e cuidados necessários para a saúde do coração. 4. Acompanhamento e Monitoramento – Estimular o acesso a serviços de saúde para diagnóstico precoce e controle de doenças crônicas relacionadas ao sistema cardiovascular. 5. Inclusão e Acessibilidade – Garantir que ações de prevenção e cuidado cheguem a populações vulneráveis, promovendo equidade no acesso à saúde. Essa iniciativa faz parte de estratégias de saúde pública para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida da população.
A implementação contou com as seguintes etapas: Estruturação e parcerias: Foi estabelecido parcerias com outras secretarias do município a fim de incluir áreas que trabalham com as lideranças comunitárias; capacitação de profissionais das equipes de saúde para atuação no programa com ênfase na prevenção, acompanhamento e tratamento dos pacientes; desenvolvimento de materiais educativos acessíveis para diferente públicos. Modalidades de atendimento: presencial nas unidades de saúde, consultas online, feiras de saúde, caminhadas, palestras, salas de espera, grupos de atividade coletiva. Público-alvo: população em geral a fim de aumentar o diagnóstico de pacientes hipertensos e diabéticos; profissionais de saúde, para capacitação contínua. Atividades do programa: Considerando a estimativa de Hipertensão Arterial, a cidade de Porto Alegre deveria ter diagnosticado 248.438 hipertensos, mas por ser uma doença silenciosa, no ano de 2023 tínhamos conhecimento de 180.930 hipertensos, havendo pela estimativa, quase 70.000 pessoas que não buscaram os serviços ou que buscaram e não foi realizada a verificação da Pressão Arterial. Diante desse dado, a primeira diretriz do Programa Cuide do Seu Coração é aumentar o diagnóstico, estabelecendo que toda pessoa maior de 18 anos que busque atendimento em alguma Unidade de Saúde da Atenção Primária seja realizado a escuta qualificada com aferição dos sinais vitais mínimos (pressão arterial, frequência respiratória e cardíaca e temperatura). Além dos pacientes que buscam o atendimento, devemos realizar busca ativa nas comunidades, para isso foram capacitados os agentes comunitários de saúde pelo Programa Saúde com Agente para verificar a pressão arterial nas visitas domiciliares. A segunda diretriz prevê mudança do estilo de vida da população em geral, o foco foi a criação de grupos de educação em saúde, com realização de oficinas presenciais e online sobre alimentação saudável, práticas de exercício e manejo do estresse. Também o estímulo à atividade física sendo o grupo conduzido pela própria comunidade e um espaço de compartilhamento de receitas saudáveis entre os profissionais de saúde e os pacientes, pensando em receitas acessíveis e equilibradas. A estratégia de risco pela equipe incluiu a capacitação dos profissionais sobre protocolos de estratificação com objetivo de identificar pacientes com maior risco cardiovascular e proporcionar o tratamento com equidade. Também foram disponibilizadas ferramentas digitais como a calculadora de risco cardiovascular, um app gratuito do Programa Hearts nas Américas. A quarta diretriz prevê o acompanhamento dos hipertensos e diabéticos com a definição de dois indicadores: proporção de pessoas com hipertensão, com consulta e pressão arterial no semestre, sendo a meta 60%; proporção de pessoas com diabetes, com consulta e hemoglobina glicada solicitada no semestre, sendo a meta 60%. A capacitação das lideranças prevê a formação de multiplicadores de saúde no território sobre prevenção e manejo das doenças cardiovasculares, estratégias para mobilização social e criação de grupos de WhatsApp para troca de informações e dúvidas entre a população e líderes treinados.
Sistema de Estratificação de Risco: Implantação de protocolos clínicos e ferramentas digitais para classificação e acompanhamento dos pacientes hipertensos e diabéticos. Capacitação de Profissionais e Lideranças Comunitárias: Cursos e oficinas para fortalecer o papel da equipe de saúde e dos multiplicadores comunitários na prevenção e no cuidado contínuo. Grupos de Apoio e Promoção da Saúde: Formação de núcleos comunitários para incentivo à mudança de estilo de vida, incluindo práticas de atividade física e alimentação saudável. O Impacto na Saúde Pública incluiu o aumento do número de hipertensos diagnosticados, passando de 180.930 para 200.000; também ocorreu uma maior adesão ao tratamento, passando de 23% de hipertensos com consulta e pressão arterial aferida no semestre para 33% no período de um ano. Outro impacto foi o fortalecimento da Autonomia da População, com maior engajamento da comunidade na adoção de hábitos saudáveis, impactando a qualidade de vida Entre os diferenciais do programa, destacamos a inovação, em enviar lembretes automatizados via Whatsapp para reforçar o seguimento do tratamento e o engajamento comunitário no cuidado à saúde. O programa “Cuide do Seu Coração” demonstrou ser uma estratégia eficaz e inovadora na prevenção e manejo das doenças cardiovasculares, combinando tecnologia, participação comunitária e equidade no acesso à saúde.
Tivemos como barreiras operacionais e de infraestrutura o déficit de profissionais de saúde para viabilizar a verificação da pressão arterial em todos pacientes que buscaram atendimento nas Unidades de saúde indiferente do motivo. Outra dificuldade encontrada foi a dificuldade de equipamentos que viabilizassem a realização de teleconsultas em todas as Unidades de saúde e as falhas na interoperabilidade entre sistemas utilizados na APS, dificultando o acompanhamento longitudinal dos pacientes. Os desafios tecnológicos incluem o acesso limitado à internet dos dispositivos móveis das populações vulneráveis, que dificulta a utilização de ferramentas digitais, a alfabetização digital insuficiente e a falta de financiamento contínuo para atualizar e realizar a manutenção dos equipamentos existentes. Em relação às barreiras socioculturais e comportamentais, identificamos que a adoção de hábitos saudáveis pode ser um desafio para pacientes que enfrentam dificuldades financeiras e também que muitos pacientes abandonam o tratamento após melhora dos sintomas. Sobre as lideranças comunitárias, observamos que nem sempre há disponibilidade ou interesse das lideranças locais em participar da capacitação e engajamento nas ações.
Doenças não Transmissíveis e Fatores de Risco
A alocação de recursos financeiros foi planejada para garantir a viabilidade do programa, priorizando ações de prevenção e monitoramento, que são mais custo-efetivas do que o tratamento de complicações cardiovasculares em estágios avançados. No entanto, desafios como sustentabilidade financeira a longo prazo e dependência de financiamento público podem limitar a continuidade e expansão do programa. O programa investiu em estratégias de baixo custo e alto impacto, como capacitação de agentes comunitários, otimizando os recursos disponíveis. O programa utilizou uma abordagem participativa, capacitando profissionais de saúde e lideranças comunitárias para atuarem na prevenção e acompanhamento das doenças cardiovasculares. A descentralização das ações, com agentes comunitários atuando na triagem e educação em saúde, aumentou o alcance das iniciativas. O programa em pouco tempo já demonstrou eficácia e pretendemos analisar a diminuição e impacto na procura desses pacientes à emergência, bem como internações.
O programa “Cuide do seu coração” foi divulgado por meio de reunião com os gerentes das unidades e com as equipes de saúde. A estratégia de comunicação incluiu materiais educativos acessíveis, treinamentos presenciais e online. A participação ativa da população e dos profissionais de saúde garantiu a disseminação das boas práticas e a conscientização sobre a prevenção das doenças cardiovasculares. A estrutura do programa foi desenvolvida para ser flexível e adaptável a diferentes contextos, podendo ser implementada tanto em áreas urbanas quanto rurais. A integração de Telessaúde, estratificação de risco e capacitação de lideranças comunitárias permite que o modelo seja replicado em outros municípios e estados, ajustando-se às necessidades locais. O programa foi implementado dentro do cenário de crescimento das doenças cardiovasculares como uma das principais causas de morbimortalidade no Brasil. Com enfoque na atenção primária, busca reduzir a sobrecarga dos serviços de saúde por meio do diagnóstico precoce, promoção da saúde e acompanhamento contínuo de pacientes hipertensos e diabéticos. A iniciativa prioriza populações vulneráveis, garantindo equidade no acesso e alinhamento com políticas públicas de prevenção de doenças crônicas.
A sustentabilidade do programa “Cuide do Seu Coração” foi planejada considerando três pilares fundamentais: financeira, operacional e institucional, garantindo que as ações possam ser mantidas e ampliadas a longo prazo. 1. Sustentabilidade Financeira • Otimização de recursos públicos: O programa prioriza ações preventivas, reduzindo custos com internações e complicações de doenças cardiovasculares. • Uso de tecnologias de baixo custo: A Telessaúde e aplicativos de monitoramento digital minimizam gastos com deslocamentos e infraestrutura física. O investimento inicial reduzido com grande impacto na redução de custos futuros do sistema de saúde. 2. Sustentabilidade Operacional • Capacitação de profissionais e lideranças comunitárias: Treinamentos contínuos garantem que o conhecimento seja multiplicado, reduzindo a dependência de especialistas externos. • Integração com a Atenção Primária à Saúde (APS): O programa fortalece a atuação das equipes de saúde da família, incorporando as ações à rotina das Unidades Básicas de Saúde (UBS). • Uso de prontuário eletrônico e estratificação de risco: Facilita a continuidade do cuidado sem a necessidade de reavaliações constantes, otimizando o tempo dos profissionais de saúde. O programa é estruturado dentro da rede de atenção primária, garantindo sua continuidade. Como desafio, colocamos que a alta rotatividade de profissionais nas Unidades de Saúde pode comprometer a manutenção do conhecimento adquirido. 3. Sustentabilidade Institucional e Social • Engajamento comunitário: A formação de lideranças locais promove um impacto duradouro, tornando a população protagonista no cuidado da própria saúde. • Monitoramento e avaliação contínua: A coleta de indicadores permite ajustes estratégicos para melhorar a efetividade e justificar a continuidade do projeto. O envolvimento ativo da comunidade e integração com políticas de saúde garantem a permanência do programa. O programa “Cuide do Seu Coração” tem um modelo sustentável, pois integra ações de baixo custo, impacto a longo prazo e engajamento comunitário. No entanto, a sustentabilidade total depende de financiamento contínuo, capacitação permanente das equipes e fortalecimento das políticas públicas de prevenção cardiovascular.
A implementação do programa enfrentou desafios em diferentes áreas, desde infraestrutura até engajamento da comunidade. Os principais obstáculos incluem: • Integração insuficiente dos sistemas de informação: Dificuldades na implementação de prontuários eletrônicos interligados para facilitar o acompanhamento dos pacientes. • Limitações no acesso à internet: Em algumas comunidades, a baixa conectividade prejudicou a utilização dos aplicativos de monitoramento. • Baixa Alfabetização Digital: Parte da população-alvo e até mesmo profissionais de saúde tiveram dificuldades em utilizar ferramentas tecnológicas para o acompanhamento remoto. • Resistência à mudança de estilo de vida: Muitos pacientes demonstraram dificuldades em aderir a hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e prática regular de exercícios. • Baixa adesão ao acompanhamento Contínuo: Alguns pacientes não compareciam às consultas de seguimento ou interrompiam o tratamento após a melhora inicial dos sintomas. • Estigma e falta de conscientização: Algumas comunidades não reconhecem a hipertensão e o diabetes como doenças graves, o que dificulta a busca por diagnóstico e tratamento. • Dificuldade na capacitação de lideranças comunitárias: Nem sempre foi fácil encontrar voluntários dispostos a atuar como multiplicadores de saúde na comunidade. • Desigualdade no acesso à saúde: Mesmo com o programa focado em populações vulneráveis, algumas barreiras sociais e econômicas dificultaram o alcance universal das ações. Apesar dos desafios, o programa conseguiu gerar impacto positivo, demonstrando seu potencial para ser ampliado e replicado.
A implementação do programa gerou diversas lições valiosas que podem ser aproveitadas por outras instituições e pela Cooperação Técnica da OPAS, especialmente na adaptação e replicação de boas práticas em saúde pública. Destaco abaixo algumas delas: 1. Integração da Telessaúde como Estratégia Sustentável Lição: A Telessaúde é uma ferramenta eficaz para ampliar o acesso a cuidados de saúde, especialmente em comunidades remotas ou com falta de especialistas. Recomendação para OPAS: Investir na capacitação de profissionais para o uso adequado das tecnologias digitais e na melhoria da infraestrutura de conectividade em países com desafios semelhantes. 2. Importância da Estratificação de Risco e Monitoramento Contínuo Lição: Classificar os pacientes conforme o grau de risco melhora a priorização dos atendimentos e reduz complicações graves. Recomendação para OPAS: Promover a padronização de protocolos de estratificação de risco para doenças crônicas e incentivar o uso de sistemas de monitoramento integrados na atenção primária. 3. Engajamento Comunitário é Fundamental para a Sustentabilidade Lição: Capacitar lideranças comunitárias e agentes de saúde fortalece o vínculo entre a população e os serviços de saúde, aumentando a adesão ao tratamento e à prevenção. Recomendação para OPAS: Incentivar estratégias de educação em saúde baseadas na comunidade, adaptando-as às realidades locais e culturais. 4. Superação de Barreiras Socioculturais e Resistência à Mudança Lição: Muitas populações enfrentam desafios para adotar hábitos saudáveis, seja por falta de conhecimento, questões econômicas ou culturais. Recomendação para OPAS: Desenvolver materiais educativos acessíveis e personalizados, considerando diversidade cultural, gênero e equidade no acesso à saúde. 5. Sustentabilidade Requer Parcerias Estratégicas Lição: A continuidade do programa depende de financiamento estável e do envolvimento de múltiplos setores (governo, universidades, ONGs, setor privado). Recomendação para OPAS: Incentivar modelos de cooperação internacional que promovam financiamento sustentável, intercâmbio de conhecimentos e inovação em políticas públicas. 6. Monitoramento e Avaliação são Essenciais para a Expansão Lição: A coleta de indicadores permite ajustes rápidos e comprova a efetividade da intervenção, facilitando sua ampliação e replicação. Recomendação para OPAS: Criar diretrizes para padronização de indicadores de impacto, garantindo comparabilidade entre países e programas de saúde. O programa “Cuide do Seu Coração” demonstrou que a integração da tecnologia, participação comunitária e planejamento estratégico são fatores-chave para o sucesso de boas práticas em saúde. Para a OPAS, a adoção dessas lições pode fortalecer a implementação de programas similares em toda a região, garantindo maior equidade e eficiência nos cuidados com doenças crônicas.
Health Policy; Planning and Management; Community Participation; Cardiovascular Diseases; Inventions
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Instituição Nacional (Ministério da Saúde, instituto de saúde, laboratório, etc.) |
Objetivo 3 - Meta 3.4 |