Inquéritos de saúde de base populacional, desenvolvidos pelo Ministério da Saúde do Brasil, permitem coletar informações essenciais e confiáveis sobre as condições de saúde, o estilo de vida e os determinantes que influenciam direta ou indiretamente a saúde dos indivíduos (Damacena et al., 2015; Malta et al., 2008). Os dados gerados são fundamentais para o planejamento, avaliação e monitoramento de três pilares centrais: o estado de saúde da população, o desempenho dos sistemas de saúde e a efetividade das políticas de promoção da saúde e prevenção de agravos. Tais informações permitem a formulação de estratégias mais precisas e eficazes, contribuindo para a melhoria contínua da saúde pública (Barros, 2008). No entanto, ainda há oportunidades para inovação, especialmente no que diz respeito à disponibilização e interpretação dos dados, com disseminação oportuna de informações para aqueles que necessitam (Choi, Barengo & Diaz, 2024). Grande parte dos dados são apresentados em formato de relatórios gerenciais, que podem chegar com atraso para as demandas de atualizações de políticas ou serviços de saúde. A utilização de plataformas digitais integradas com painéis dinâmicos pode auxiliar na tradução do conhecimento para todos os atores envolvidos no contexto da vigilância em saúde (Soni et al., 2024). Isso pode impulsionar decisões baseadas em evidências, além de possibilitar o uso mais assertivo dos recursos públicos. No Brasil, os indicadores produzidos por inquéritos populacionais eram tradicionalmente apresentados de forma segregada, por tipo de inquérito ou por objetivo de interesse. A proposição de um painel que agregue todos os inquéritos de saúde voltados ao monitoramento de condições crônicas fortalece o compromisso com metas nacionais e internacionais, possibilita o acesso em tempo conveniente aos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde e dá ampla visibilidade à informação, apoiando a tomada de decisão informada por evidências e o combate à desinformação. Com base nessas necessidades, foi proposto o Projeto Estruturação de Dados e Inquéritos de Saúde e Biomarcadores (EDIS-Bio), vinculado ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). O Proadi-SUS é uma parceria entre o Ministério da Saúde e hospitais filantrópicos de excelência no Brasil, com o objetivo de apoiar e aprimorar o SUS. O desenvolvimento do EDIS-Bio conta com a colaboração entre a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) e o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), com foco em grandes inquéritos de saúde pautados em Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Este projeto fundamenta-se no interesse de conectar as pontas de um ciclo de produção de informação e conhecimento que, muitas vezes, é intangível. No contexto desta boa prática, lançamos luz ao desafio enfrentado pelo Sistema Único de Saúde em perpassar pela cadeia de ações que iniciam na realização de inquéritos nacionais de saúde, passam pela fomentação de pesquisas, disponibilização oportuna de dados aos atores de saúde e, por fim, retornam à população por meio de políticas e ações informadas por evidências. Além disso, o EDIS-Bio soma-se à criação do Centro Nacional de Inteligência Epidemiológica, sendo desenhado de maneira a colaborar com a estratégia vigente de toda a SVSA, fortalecendo a integração e a eficiência das ações de vigilância em saúde.
O projeto tem como objetivo principal a estruturação de dados de inquéritos de saúde conduzidos pelo Ministério da Saúde, a partir da visão dos usuários, para a elaboração conjunta de uma plataforma digital agregadora e transversal de análise, interpretação e apresentação de dados. Busca-se desenvolver uma plataforma unificada que possibilite a visão de indicadores de saúde capturados em diferentes inquéritos populacionais, com foco nas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e condições sensíveis aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ao Plano Nacional de Controle de Doenças e Agravos Não Transmissíveis. Essa plataforma visa apoiar a gestão e a investigação em saúde, garantindo acesso rápido, seguro e fácil aos dados por gestores públicos, pesquisadores e a população em geral. Além disso, o projeto tem como meta promover a transparência, a democratização da informação e o suporte a decisões informadas por evidências na saúde pública. Ao facilitar o acesso às informações em tempo adequado, a iniciativa busca apoiar o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências, beneficiando tanto gestores quanto a sociedade civil organizada.
A metodologia do projeto foi desenvolvida por meio da composição de uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais epidemiologistas com diferentes formações primárias e uma equipe de dados (engenheiros, cientistas e analistas de dados) do Ministério da Saúde (MS) e do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). As etapas para o desenvolvimento do painel de integração de dados foram estruturadas de forma sequencial e integrada. Inicialmente, foi realizado o levantamento de requisitos, utilizando a metodologia de design thinking para mapear as principais necessidades e desejos dos diferentes atores envolvidos no uso dos dados dos inquéritos de saúde. Essa etapa contou com a colaboração da equipe de gestão de dados da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), garantindo que as demandas dos usuários fossem compreendidas e incorporadas ao projeto. Em seguida, foi realizada a fase de design da solução e prototipagem. A partir dos requisitos pré-estabelecidos e do mapeamento das principais dores dos usuários, foi desenhada e apresentada uma solução por meio de mockups detalhados. Esses artefatos visuais preliminares facilitaram a visualização, discussão e aprovação da proposta pela equipe e pelos parceiros envolvidos no projeto. O desenvolvimento do produto foi dividido em seis frentes principais, conforme ilustrado na Figura 1 anexada, que incluem a integração de bases de dados, a criação de painéis dinâmicos e a realização de testes para garantir a qualidade, consistência e veracidade das informações. Esses testes são essenciais para assegurar que as soluções desenvolvidas atendam às necessidades dos usuários e sejam confiáveis para a tomada de decisões. Após a elaboração do protótipo, foi organizada uma etapa de validação de requisitos com os atores finais, utilizando novamente o design thinking. Nessa fase, gestores e pesquisadores selecionados avaliaram a proposta, identificando se suas necessidades e desejos foram atendidos e sugerindo aprimoramentos para o produto. Por fim, a etapa de validação e entrega final incluiu a atualização das soluções com base no feedback recebido, a transferência de conhecimento para a equipe do MS e a entrega da documentação completa do projeto. Além disso, foi realizado um treinamento para a equipe do MS, garantindo a plena capacidade de navegação, atualização e manutenção das plataformas e do repositório de pesquisas.
Este projeto teve início em outubro de 2024 e deve ser concluído ao longo do ano de 2025. No entanto, os resultados iniciais merecem ser destacados e compartilhados para fomentar demais experiências de inovação e ações propícias de vigilância em saúde. Trata-se de um projeto em desenvolvimento, que trará maior visibilidade aos principais inquéritos de saúde conduzidos pelo MS. Compartilhamos os resultados preliminares de uma plataforma para visualização de indicadores-chaves produzidos a partir dos resultados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco ou Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). As próximas etapas incluem a ampliação e incorporação da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Além dos resultados agregados, a plataforma disponibilizará os dicionários e as bases de dados individualizados permitindo acessibilidade a gestores de saúde, pesquisadores e sociedade civil organizada. O inquérito Vigitel teve início em 2006, sendo uma pesquisa com periodicidade anual que monitora a frequência e a distribuição dos principais determinantes de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), conduzido em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Por meio do levantamento de requisitos conduzido pela equipe EDIS-Bio e a equipe de assessoria técnica da SVSA, definiu-se a prioridade das ações, necessidades dos painéis, assim como o entendimento dos requisitos fundamentais e processos internos de apresentação dos dados do painel atual. Com uma metodologia ágil e colaborativa de design thinking os objetivos e principais requisitos para o sistema foram identificados: 1) Layout dinâmico e intuitivo: possibilidades de múltiplas visualizações e gráficos; descrições dos inquéritos de saúde; dicionário de indicadores; camadas de dados para diferentes perfis (usuário leigo, gestor, pesquisador); opções de extração de dados e análises estatísticas básicas; 2) Responsividade da ferramenta em diferentes interfaces (celular, tablet, computador): utilização de ferramenta com maior velocidade e funcionalidades; possibilidade de seleção de filtros; 3) Foco nas metas MS e ODS e projeções para 2030: definição dos indicadores no painel, descrição e mapeamento dos indicadores do plano DANT (doenças e agravos não transmissíveis) nos diferentes inquéritos de saúde do MS, possibilidade de diferenciação por filtro e apresentação de tendências e metas para 2030, com atualização contínua; 4) Disponibilização de indicadores de uso e feedback: Monitoramento da interação dos usuários com a solução apresentada; Inclusão de campo para a satisfação do usuário para a avaliar a eficiência, relevância e usabilidade do dashboard. Após a etapa identificação dos requisitos e necessidades do painel, os próximos passos foram a criação do dicionário de indicadores, e a harmonização dos dados para a organização do banco de dados de todos os anos do inquérito Vigitel. De forma concomitante foi identificado e testado o uso de uma ferramenta mais ágil e com melhor performance para as necessidades identificadas no levantamento de requisitos. Dentre as interfaces de visualização disponíveis, existe o interesse em optar por uma ferramenta open source, por ser gratuita e com código aberto, aumentando a potencialidade de uso e adaptabilidade às necessidades gerais. Em seguida, foi realizado o mapeamento do processo de extração, transformação e carregamento de dados (da sigla: ETL - extract, transform and loading) para unificação das bases, harmonização dos dados, adequação das ferramentas para incremento na visualização em uma nova plataforma. Todo este processo foi necessário para a apresentação do Mockup à equipe envolvida, assim como gestores do SVSA. As visões foram construídas favorecendo a visualização de indicadores com foco em critérios como sexo, idade, raça-cor da pele, escolaridade e localidade. Tais filtros foram implementados para ampliar o foco aos temas transversais de interesse do Plano Estratégico da OPAS e fomentar discussões oportunas na esfera nacional quanto à equidade. As etapas 4 a 6, descritas no método, ainda estão em desenvolvimento.
A construção de painéis integrados a partir de diferentes bases de dados apresenta uma série de desafios técnicos, metodológicos e operacionais. Um dos principais obstáculos é a integração e harmonização de dados heterogêneos, provenientes de inquéritos diversos, com formatos, estruturas e padrões distintos. Além disso, as alterações nos mesmos inquéritos ao longo dos anos, como mudanças nos processos de coleta, apresentação das variáveis dos questionários e classificação de dados, exigem processos rigorosos de padronização. Para garantir indicadores confiáveis, é necessária a definição de variáveis comuns, a normalização de escalas e a unificação de terminologias. Outro desafio significativo é garantir a usabilidade e acessibilidade dos painéis, de modo que as informações sejam apresentadas de maneira clara, intuitiva e adaptada aos diferentes perfis de usuários, desde gestores e pesquisadores até a sociedade civil. Por fim, a atualização e a manutenção contínua dos painéis representam um desafio operacional, exigindo recursos técnicos e humanos qualificados, além de processos automatizados de extração, transformação e carregamento de dados (ETL) para garantir a relevância e a atualidade das informações disponibilizadas.
Doenças não Transmissíveis e Fatores de Risco
Dados, Pesquisa, Evidência, Conhecimento
Sistemas de Informação e TIC
Comunicação em Saúde
Os recursos foram utilizados de forma eficiente, com foco na construção de uma plataforma digital integrada que atende às necessidades dos usuários. A parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), por meio do Proadi-SUS, permitiu a otimização de custos e a aplicação de metodologias inovadoras, como o design thinking, para garantir a relevância e a usabilidade do produto. A entrega sequencial por inquérito e a disponibilização de bases de dados anonimizadas e reprodutíveis reforçam a eficiência do projeto. Além disso, a plataforma promove a transparência e o acesso rápido a informações, apoiando decisões baseadas em evidências e a formulação de políticas públicas mais assertivas.
A plataforma em desenvolvimento no projeto está sendo projetada para ser altamente adaptável e replicável em diferentes contextos. A metodologia utilizada, que inclui o levantamento de requisitos com design thinking e a entrega sequencial por inquérito, permite que a solução seja aplicada a outros inquéritos nacionais. Além disso, a disponibilização de bases de dados anonimizadas e a definição clara dos cálculos dos indicadores garantem a reprodutibilidade da plataforma em outras realidades. A parceria entre o MS e o HIAE, baseada nas diretrizes do Proadi-SUS, também facilita a transferência de conhecimento e a replicação da iniciativa em diferentes regiões e contextos, promovendo a transparência e o acesso democrático às informações de saúde.
A sustentabilidade do projeto é garantida pela construção de uma plataforma digital integrada que permite a atualização contínua dos dados e a disponibilização de informações em tempo real. A parceria entre o MS e o HIAE, por meio do Proadi-SUS, assegura a manutenção da plataforma, enquanto a entrega sequencial por inquérito viabiliza a ampla disponibilização das visões da plataforma de forma gradual. Além disso, o desenvolvimento de um mecanismo de monitoramento de acesso permitirá avaliar a frequência de uso da plataforma e o impacto das informações disponibilizadas, garantindo a relevância e a utilidade contínua da ferramenta. A plataforma também promove a transparência e o acesso democrático às informações de saúde, fortalecendo a cultura do uso de dados para a tomada de decisões informadas e o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências.
A implementação da plataforma integrada de dados de inquéritos de saúde enfrenta diversos desafios técnicos, metodológicos e operacionais. Um dos principais obstáculos é a integração e harmonização de dados heterogêneos, provenientes de diferentes inquéritos nacionais, que possuem formatos, estruturas e padrões distintos. Além disso, as alterações nos mesmos inquéritos ao longo dos anos, como mudanças nos processos de coleta, apresentação das variáveis dos questionários e classificação de dados, exigem processos rigorosos de padronização para garantir a consistência e a confiabilidade dos indicadores. Outro desafio significativo é garantir a usabilidade e acessibilidade da plataforma, de modo que as informações fossem apresentadas de maneira clara, intuitiva e adaptada aos diferentes perfis de usuários, desde gestores e pesquisadores até a sociedade civil. A atualização e a manutenção contínua dos painéis também representaram um desafio operacional, exigindo recursos técnicos e humanos qualificados, além de processos automatizados de extração, transformação e carregamento de dados (ETL) para garantir a relevância e a atualidade das informações disponibilizadas.
As lições aprendidas ao longo do projeto destacam a importância da padronização de dados e da colaboração entre instituições para o sucesso de iniciativas de saúde pública. A experiência demonstrou que a harmonização de dados heterogêneos e a definição de variáveis comuns são essenciais para garantir a confiabilidade e a reprodutibilidade dos indicadores. Além disso, a participação ativa dos usuários no desenvolvimento da plataforma, por meio de metodologias como o design thinking, é fundamental para garantir que as soluções atendessem às necessidades reais dos gestores, pesquisadores e sociedade civil. Outra lição importante é o valor da transparência e do acesso democrático às informações de saúde. A disponibilização de bases de dados anonimizadas e a definição clara dos cálculos dos indicadores permitiram a reprodutibilidade da plataforma e o uso das informações por diferentes atores. Para a Cooperação Técnica da OPAS, essas lições reforçam a importância de estratégias que integrem a padronização de dados, a colaboração intersetorial e a participação social, garantindo a eficácia e a sustentabilidade das políticas públicas de saúde. A experiência adquirida com o projeto também destacou a necessidade de investimentos em capacitação e infraestrutura para garantir a atualização e a manutenção contínua das ferramentas de saúde pública. Essas lições podem servir como base para iniciativas semelhantes em outros contextos, promovendo a transparência, a equidade e o acesso democrático às informações de saúde.
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Compartilhamento de conhecimento, Troca de Experiência |
Resolução de Problemas |
Inovação, Novas Oportunidades |
Fortalecimento Institucional |
Formulação de Políticas |
Objetivo 3 - Meta 3.4 |
Objetivo 3 - Meta 3.5 |
Objetivo 3 - Meta 3.6 |