Avaliação do consumo de sal (sódio) e potássio em crianças e adolescentes

Informação básica


Breve introdução:

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) respondem por cerca de dois terços de todas as mortes no mundo, sendo que, aproximadamente, 40% destas mortes são prematuras ocorrem antes dos 70 anos. Alimentação não saudável constitui o principal fator responsável por estes achados. Um dos indicadores mais importantes de alimentação não saudável corresponde ao elevado teor de sódio (Na) e baixo de potássio na dieta(K), fatores estes associados à alta ingestão de produtos industrializados e baixa de frutas e vegetais e frescos. Altos valores da relaçãoNa/K na alimentação se correlacionam com valores mais elevados de pressão arterial e presença de obesidade. A importância do tema na saúde pública global fez com que a Organização das Nações Unidas (ONU) indicasse como meta para 2025 a redução de 30% no consumo de sal. O monitoramento da eficácia de políticas públicas exige aferição continuada de parâmetros de avaliação. Sendo assim, o Ministério da Saúde incluiu a avaliação do consumo de sal na população brasileira nos objetivos da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, quando a medida do consumo de sal foi feito pela medida da relação Na/creatinina em urina casual mediante aplicação da fórmula de Tanaka desenvolvida em fins do século passado no Japão. Precedendo à realização do estudo em âmbito nacional, nosso grupo de pesquisa validou essa equação em amostra de adultos de Vitória contra o padrão-ouro que corresponde ao sódio eliminado na urina de 24h. Na PNS estimou-se o consumo nacional em adultos como sendo da ordem de 9,4 g/dia, quase o dobro do consumo máximo recomendado pela OMS de até 5 g/dia. A partir de então, o Ministério da Saúde passou a desenvolver uma serie de ações visando reduzir o consumo de sal no Brasil. O grau de redução deste indicador deverá ser avaliado na terceira edição da PNS. Entretanto, um foco importante dessa política pública precisa ser a população infanto-juvenil. Não há estudos robustos no Brasil com estimativa de consumo nem Na nem de K nesse segmento etário. Desta forma, o Ministério da Saúde realizou parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) para desenvolver estudo em Vitória visando estimar o consumo de sal na população de escolares de 6-17 anos na cidade com uso do padrão ouro (coleta urinária de 24 h) e posterior desenvolvimento de equação permitindo estimar o consumo de sal e de K nessa faixa etária a partir da relação Na/creatinina e K/creatinina em urina parcial. O projeto encontra-se ainda em desenvolvimento e conta com a parceria da Prefeitura de Vitória e de escolas particulares para recrutamento de voluntários.


Principais Objetivos:

A pesquisa firmada pelo Termo de Execução Descentralizada (TED) 50/2023 tem como principal objetivo estimar o consumo de sal, incluindo sódio e potássio, em uma amostra de escolares das redes pública e privada da cidade de Vitória, utilizando o padrão ouro para essa avaliação, que é a coleta urinária de 24 horas. Paralelamente, busca-se avaliar a qualidade da dieta dessa população, fornecendo insights sobre os hábitos alimentares e sua relação com a saúde. Além disso, o estudo visa desenvolver e validar equações que permitam estimar a excreção diária (24 horas) de creatinina com base em variáveis como sexo, idade e peso corporal. Ainda, será investigada a efetividade da inclusão da massa magra, aferida por bioimpedância, nessas equações, com o intuito de aprimorar a precisão na predição da excreção de creatinina. Outro aspecto importante é o desenvolvimento e a validação de uma nova equação, bem como a reavaliação das equações já existentes (Tanaka, Kawasaki e Intersalt), para estimar o consumo de sal e potássio por meio da relação Na/creatinina e K/creatinina, respectivamente, medidas em amostras de urina casual. O estudo também buscará correlacionar indicadores urinários, em especial a relação Na/K na urina, com a qualidade da dieta avaliada por meio de um Questionário de Frequência Alimentar. Os resultados obtidos serão amplamente discutidos com a sociedade, por meio de divulgação nas mídias, e, de forma mais específica, com as Secretarias Municipal e Estadual de Educação, com o intuito de promover reflexões e ações sobre a alimentação oferecida nas escolas. Por fim, as fórmulas desenvolvidas e validadas nesta etapa serão aplicadas em âmbito nacional na próxima versão da PENSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), permitindo a avaliação do consumo de sódio e potássio na população infanto-juvenil brasileira, contribuindo para políticas públicas e estratégias de promoção da saúde.


Implementação/Atividades:

Para atingir os objetivos propostos, o projeto em desenvolvimento prevê a realização de uma série de etapas metodológicas e atividades. Inicialmente, serão recrutadas 720 crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 17 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculadas em escolas públicas (municipais e estaduais) e particulares localizadas em Vitória. Esses participantes passarão por uma série de procedimentos clínicos e laboratoriais em um Centro de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da UFES. Nessa etapa, serão coletados dados sociodemográficos por meio da aplicação de questionários, além da realização de exames antropométricos (peso, estatura, circunferências da cintura, perna e braço), avaliação da composição corporal por bioimpedância, medição da pressão arterial e realização de eletrocardiograma. Também será realizada coleta de sangue em jejum para análise de diversos parâmetros, incluindo hemograma, metabolismo de ferro, bioquímica (sódio, potássio, glicose, ureia, creatinina e ácido úrico), hormônios (insulina, vitamina D, testosterona, estradiol, TSH, T3 e T4), colesterol total e frações (HDL-C, LDL-C) e triglicerídeos. Além disso, será coletada uma amostra de urina casual, correspondente ao segundo ou terceiro esvaziamento vesical do dia, para dosagem de sódio, potássio, creatinina e albumina. Paralelamente, será aplicado um Questionário de Frequência Alimentar (QFA) para investigar os hábitos alimentares dos participantes, com o auxílio de um adulto responsável que conviva com a criança ou adolescente. Também será preenchido um recordatório alimentar de 24 horas, igualmente com o apoio de um adulto. Outra etapa crucial será a coleta de urina de 24 horas, iniciada no mesmo dia da realização dos exames clínicos e laboratoriais. Essa coleta será supervisionada por um auxiliar de pesquisa, que orientará o início do processo, e a urina será recolhida no dia seguinte na própria escola, juntamente com um "diário de coleta" para verificação da adesão aos procedimentos e identificação de eventuais perdas. As amostras de urina de 24 horas serão enviadas a um Laboratório Central para dosagem de sódio, potássio, creatinina e albumina. Parte dessas amostras também será encaminhada a dois centros colaboradores: a Unifesp/SP, onde serão correlacionados dados da dieta com padrões de excreção urinária de ácidos graxos de cadeia curta e isoformas da ECA-1 e ECA-2, e o Instituto de Biofísica da UFRJ, que buscará identificar marcadores urinários de sensibilidade ao sal. Após a coleta dos dados, será realizada a montagem de bancos de dados para organização e análise das informações. A validação das fórmulas já existentes (Tanaka, Kawasaki e Intersalt) será feita por meio de técnicas de regressão linear e da técnica de Bland-Altman. Já o desenvolvimento de novas fórmulas será realizado por meio de análise de regressão multivariada, utilizando métodos lineares e não lineares. A avaliação da qualidade da dieta será baseada na medida da relação Na/K na urina de 24 horas e na excreção total de sódio e potássio, comparando esses indicadores com os dados obtidos a partir do QFA e do recordatório alimentar de 24 horas. Essas análises permitirão uma compreensão mais aprofundada dos hábitos alimentares e sua relação com os indicadores de saúde, contribuindo para o alcance dos objetivos propostos pelo projeto.


Resultados Principais:

A meta do projeto é recrutar 720 participantes, distribuídos de forma balanceada por sexo e nas faixas etárias pré-púberes (6-9 anos), pubescentes (10-13 anos) e pós-púberes (14-17 anos). Até o momento, foram recrutadas crianças de quatro escolas públicas municipais de Vitória, uma escola do Instituto Federal de Educação Superior (IFES) e uma escola privada, totalizando 318 escolares. Os exames são realizados em três a cinco participantes por dia, e a expectativa é alcançar 50% da amostra para realizar uma análise interina dos dados. As análises por faixa etária, no entanto, só serão feitas quando 85% da amostra estiver concluída, o que corresponde a aproximadamente 612 participantes. Vale destacar que não há estudos na literatura que abranjam toda essa faixa etária, uma vez que os dois estudos realizados até o momento (Suíça e Coreia do Sul) foram conduzidos apenas com adolescentes (≥12 anos). Após a conclusão das aferições em cada criança, a coordenação do projeto elabora um relatório detalhado com todos os dados coletados. Esse relatório enfatiza aspectos como a posição percentil de peso e estatura dos participantes, o índice de massa corporal (indicando baixo peso, peso normal, sobrepeso ou obesidade), a posição percentil da pressão arterial (classificando-a como normal, pré-hipertensão ou hipertensão), a presença de anemia, dislipidemias, resistência à insulina e possíveis alterações hormonais, além da avaliação da composição corporal por meio de relatório automatizado de bioimpedância octapolar. Também são incluídos no relatório os resultados da avaliação cardiovascular, que abrange pressão arterial, ausculta cardíaca e eletrocardiograma. Para crianças e adolescentes que relatam ser asmáticos, é realizada uma espirometria padrão, antes e após o uso de broncodilatador, para avaliar o controle da asma. A função renal é avaliada de forma completa, incluindo o clearance de creatinina e a perda urinária de albumina (em mg/24h e mg albumina/mg creatinina). Além disso, o relatório apresenta uma avaliação do consumo atual de sal e potássio, comparando os valores encontrados com os limites de recomendação atuais, bem como a relação Na/K na urina de 24 horas. No encaminhamento dos resultados às famílias, é recomendado que os exames sejam apresentados ao médico que realiza o acompanhamento regular da criança ou adolescente. Caso sejam detectadas alterações com significado clínico, um médico da equipe entra em contato com a família para discutir encaminhamentos e condutas adequadas. Além disso, o projeto oferece a cada escola participante a realização de um encontro com os interessados para discutir a importância de hábitos saudáveis e os resultados preliminares. Após a conclusão da pesquisa, será feita uma divulgação ampla dos resultados por meio das mídias usuais, como rádio, TV, jornais e canais de YouTube. Cabe destacar que o projeto já foi divulgado em matérias de jornal e na TV. No entanto, como o objetivo é recrutar uma amostra que reflita o perfil dos escolares da rede de ensino de Vitória, uma divulgação mais ampla no momento atual não é conveniente, pois poderia atrair uma participação excessiva de portadores de doenças específicas (como obesidade ou asma), o que caracterizaria uma amostra mais selecionada e menos representativa. A divulgação e discussão dos resultados com as secretarias municipais e estaduais de Educação e Saúde trará benefícios diretos para toda a comunidade, além de contribuir para as tratativas do Ministério da Saúde na discussão da composição de nutrientes em alimentos industrializados direcionados ao público infanto-juvenil.


Limitações e Impedimentos:

A implementação do projeto enfrentou diversos desafios, sendo o principal deles o recrutamento de participantes. O sucesso do recrutamento variou significativamente conforme o nível de engajamento das escolas. Outro desafio foi a dificuldade em estabelecer parcerias institucionais mais amplas. Tentativas de contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória para organizar uma reunião geral com os diretores das escolas municipais não foram bem-sucedidas. Apenas foi permitido o contato individual com cada direção, e muitas delas não se mostraram acessíveis ao projeto, alegando preocupações com a "ordem e disciplina" da escola. As escolas privadas também apresentaram resistência, sendo pouco acessíveis a projetos dessa natureza. Além disso, a complexidade operacional do projeto, que envolve a coleta de dados clínicos, laboratoriais e de urina de 24 horas, exigiu uma logística detalhada e a supervisão constante de uma equipe multidisciplinar. A necessidade de garantir a adesão dos participantes aos procedimentos de coleta e a precisão dos dados também representou um desafio significativo. Por fim, a divulgação do projeto foi limitada para evitar a participação excessiva de portadores de doenças específicas, como obesidade e asma, o que poderia caracterizar uma amostra mais selecionada e menos representativa. Apesar desses obstáculos, o projeto segue em andamento, com a expectativa de alcançar os objetivos propostos e gerar resultados relevantes para a saúde pública.


Tópicos Principais/Temas:

Doenças não Transmissíveis e Fatores de Risco
Sistemas e Serviços de Saúde
Dados, Pesquisa, Evidência, Conhecimento
Promoção da Saúde
Saúde da Criança
Saúde do Adolescente/Juventude


Eficiência & Eficácia:

O projeto foi implementado com eficiência, utilizando recursos de forma otimizada. O grupo de pesquisa já dispunha de infraestrutura e equipamentos necessários, e os recursos financeiros foram direcionados para insumos de consumo, exames laboratoriais (com custo reduzido), transporte dos participantes (R$ 30,00 por participante) e bolsas para a equipe de coleta (alunos de mestrado, doutorado e um pesquisador responsável pelas análises estatísticas). A abrangência e a qualidade dos exames oferecidos, realizados em um único local e dia, funcionaram como um grande atrativo para os participantes, garantindo a viabilidade do recrutamento.


Adaptabilidade & Replicabilidade:

O projeto foi projetado para ser replicável em outras cidades e contextos, uma vez que utiliza metodologias padronizadas e de baixo custo. A população de Vitória, composta por brancos, pretos e pardos, permite que os resultados sejam extrapolados para outras regiões do Brasil e da América Latina. Além disso, a fórmula desenvolvida para estimar o consumo de sal e potássio pode ser aplicada de forma simples, exigindo apenas medidas de peso, estatura, sexo, idade e uma amostra de urina casual. A criação de aplicativos on-line para cálculos automatizados facilitará a disseminação e aplicação dos resultados em diferentes contextos. A experiência acumulada pela equipe está disponível para futuros estudos multicêntricos, possivelmente organizados pela OPAS.


Sustentabilidade:

O projeto é sustentável devido à sua estrutura de custos otimizada, com recursos direcionados para insumos essenciais e parcerias estratégicas que reduzem custos laboratoriais. A metodologia desenvolvida, uma vez validada, permitirá a replicação do estudo com investimentos mínimos, utilizando equipamentos e infraestrutura já disponíveis em outras localidades. Além disso, a criação de ferramentas digitais (como aplicativos on-line) para análise dos dados garantirá a continuidade e a aplicação dos resultados em larga escala, sem a necessidade de grandes investimentos adicionais.


Conclusão


Quais foram os obstáculos ou desafios enfrentados durante a implementação desta boa prática/iniciativa?

O maior desafio foi o recrutamento de voluntários, que exigiu um envolvimento ativo das escolas. O sucesso variou conforme o nível de engajamento das direções escolares: em uma escola com apoio direto da coordenação pedagógica (contato via WhatsApp com os pais), o índice de recrutamento foi de 83 participantes para 814 elegíveis. Já em outra escola, onde apenas folders foram distribuídos, o índice caiu para 16 participantes em 1.200 elegíveis. Tentativas de contato com a Secretaria Municipal de Saúde para uma reunião geral com diretores das 42 escolas municipais não foram bem-sucedidas, limitando o acesso a algumas instituições.


Quais foram as lições aprendidas que irão aprimorar nossa expertise e agregar valor à Organização?

Durante a implementação do projeto, foram identificadas lições valiosas que podem contribuir para futuras iniciativas. O principal desafio enfrentado foi o recrutamento de voluntários, que demandou um envolvimento ativo das escolas. Observou-se que o sucesso do recrutamento variou significativamente de acordo com o nível de engajamento das direções escolares. Essa experiência evidenciou a importância de uma comunicação próxima e eficaz com os pais e a comunidade escolar para o sucesso do projeto. Outra lição relevante foi a dificuldade em estabelecer parcerias institucionais mais amplas. Tentativas de contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória para organizar uma reunião geral com os diretores das 42 escolas municipais não obtiveram sucesso. Apenas foi permitido o contato individual com cada direção, e muitas delas não se mostraram acessíveis ao projeto, alegando preocupações com a "ordem e disciplina" da escola. Esse obstáculo reforçou a necessidade de estratégias mais eficazes para engajar instituições públicas e privadas em iniciativas de pesquisa, incluindo o apoio de órgãos governamentais e a demonstração clara dos benefícios do projeto para a comunidade. Além disso, a experiência demonstrou que parcerias estratégicas, como a estabelecida com um laboratório de Vitória, podem reduzir custos e aumentar a viabilidade do projeto. A padronização de metodologias e o desenvolvimento de ferramentas digitais, como aplicativos on-line para análise de dados, também se mostraram essenciais para facilitar a replicação e a aplicação dos resultados em outros contextos. Essas lições destacam a importância de uma abordagem colaborativa e adaptável, que considere as particularidades de cada contexto e promova o engajamento de todos os envolvidos.


Palavras-chave:

Estudos Populacionais em Saúde Pública; VIGILÂNCIA EM SAÚDE; Ciência e Desenvolvimento


Multimídia



Fontes


https://fest.org.br/projetos/projeto-da-fest-e-ufes-visa-estimar-consumo-de-sal-em-criancas-e-adolescentes/
https://ufes.br/conteudo/ufes-e-ministerio-da-saude-iniciam-pesquisa-sobre-consumo-de-sal-por-criancas


DATAS

Início: 2023-11-12
Fim: 2025-11-09

TIPO

Experiência de país/território

SUB-REGIÃO

América do Sul

PAÍS

Brasil

INSTITUIÇÃO

Governo

PARTE INTERESSADA

Setor Acadêmico (universidade, corpo docente, etc.)

GRUPO POPULACIONAL

Profissionais de saúde das secretarias estaduais e municipais

INTERVENÇÃO

Prevenção, Redução de Risco
Inovação, Novas Oportunidades
Formulação de Políticas
Geração de Evidências

OBJETIVOS ODS

Objetivo 3 - Meta 3.4

CHAMADAS DE BOAS PRÁTICAS

Chamada de Boas Práticas de Prevenção, Controle e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DNT)
Escritório Regional para as Américas da Organização Mundial da Saúde
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